quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Minhas dificuldades em escrever a história de Quadra e blá-blá-blá...

Só pra dar uma quebrada na seqüência de posts que falam diretamente sobre história.

Se engana muito quem pensa que é fácil encontrar o que escrever sobre a região de Quadra.
Municípios antigos, como Tatuí, Itapetininga e Guareí têm diversos livros e historiadores que se dispuseram a escrever livros sobre seus respectivos municípios.
Você tem que ler estas obras e pescar alguma coisa ou outra que remeta diretamente ou indiretamente à região de Quadra.
A maioria do que escrevi aqui é baseado no estudo das árvores genealógicas das pessoas citadas por estes livros.
Tudo o que escrevi até agora, foi retirado diretamente do livro Repertório de Sesmarias, do Depto. de Museus e Arquivos do Estado de São Paulo, de 1944, do livro Guareí, de Sílvio Vieira de Andrade Filho, de 2004 e de xerox do livro Álbum de Tatuhy, de João Netto Caldeira, de 1934, além de inúmeras incursões ao Google, digitando nomes, lugares, entre ou fora de aspas, que me levaram a inúmeros sites dos quais peguei muitas informações e que me esqueci de anotar seus endereços, sendo que um dos poucos que me lembro é o Holtzgen, que se propõe a falar sobre a ascendência de toda a família Holtz, e que abrange árvores genealógicas vastíssimas.
Também peguei muita coisa do site que escreve linha a linha o livro Genealogia Paulistana, escrito por Luiz Gonzaga da Silva Leme, em 1903-1905, o site de Celso Prado, a Enciclopédia Sorocabana e muitos outros.
Todas estas pessoas que escreveram estes livros e formularam estes sites são historiadores que pesquisaram diretamente nas fontes do Arquivo do Estado, ou em Cartórios de Registros de Imóveis ou Notas, livros de registro de nascimento, batizados, mortes, arquivos de Igrejas e Cemitérios, e tudo o que pude pesquisar foi pela internet e esta meia dúzia de livros.
Eu sou apenas um pesquisador amador que usa um tempo vago no serviço para procurar alguma coisa, sendo que, por muitas vezes, passo meses a fio sem procurar por uma linha a mais que eu possa pesquisar.
Também foi valiosíssima a ajuda que tive do historiador José Luiz Nogueira, de Itapetininga, autor do livro Genealogia de uma Cidade – Itapetininga.
Ele sempre foi muito gentil e disposto a ajudar, o que nem sempre é comum a todos a quem procuro informações.
Achei interessantíssimo o trabalho de Júlio Manoel Domingues, que publicou todo o seu trabalho sobre a história de Porangaba em um site chamado Porangaba, sua história.
Nestes tempos modernos, faz muito sentido o que escutei no vídeo de uma palestra de um louco que falava sobre administração, que quem tem o poder é quem tem o conhecimento, e que o conhecimento só é válido se é repassado. De que vale o conhecimento se ninguém tem acesso a ele?
Desta forma, decidi escrever este blog, que é uma forma de publicar, passo a passo, tudo o que consigo reunir de informações, na medida que consigo juntar linhas que façam sentido e que eu consigo pesquisar.
Em parte, serve para amenizar a minha própria ânsia de escrever tudo o que sei, em vez de esperar juntar 20 anos de pesquisa, como foi no caso do livro que citei, do José Luiz Nogueira, para então escrever um livro.
Tenho entrevistado muitos antigos moradores de Quadra, e todos eles me perguntam quando o livro vai ficar pronto e também querem ler o resultado do que escrevi.
Sempre respondo que o livro “eu vou terminar de escrever quando eu morrer”, principalmente, se eu continuar andando a passos de tartaruga, como estou.
Às vezes você encontra algo que reformula por completo tudo o que você escreveu anteriormente, suas linhas de raciocínio, etc., e tem que reescrever tudo de novo.
É praticamente impossível dizer quando minhas pesquisas terão fim.
Os posts que escreverei de agora em diante já terão muitas informações das entrevistas que realizei com estas pessoas, e procuro ver o que se encaixa no que é dito para mim com o que eu tenho de informações escritas, que, por muitas vezes, têm se confirmado mutuamente.
Ou, às vezes, não, como livros escritos com informações erradas, por exemplo. O mais comum são erros de datas, consertados pela análise do tempo nas árvores genealógicas.
As únicas pessoas que escreveram alguma coisa sobre Quadra, ou melhor, “a Quadra”, foram Marcos Antônio dos Santos, o Marquinhos, da Câmara, que fez muito trabalho de entrevistas, e Maria Tereza Proença Quadra, viúva de Manoel Vieira Quadra, cujos papéis provavelmente se perderam.
Também são muito importantes os dados que obtive com eles, mas os dados que procurei são os que mais se referem à genealogia e ao povoamento, e não aos costumes e acontecimentos da vida do povo da Quadra.
Outra coisa: quase sempre costumo escrever “da Quadra” ou “na Quadra”, em vez de “de Quadra” ou “em Quadra”.
Escrevo assim porque fui acostumado desde sempre a falar assim.
Quando me refiro ao município onde moro, numa conversa com pessoas que conhecem o município, falo “da Quadra” ou “na Quadra”. Do contrário, uso “de Quadra” ou “em Quadra”.
Neste blog misturo muito, mas costumo usar o “de/em Quadra” normalmente quando falo de áreas do município que não estão no bairro ou antiga vila da Quadra ou quando eu falo do município inteiro.

Sobre o que que eu estava escrevendo mesmo?
Esqueci...

Bom... outro dia eu falo sobre as entrevistas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O começo do começo

Este post fala sobre a ocupação do território de Quadra e seus arredores, entre os anos de 1800 e 1821, mais ou menos.
* * *
Lá pelo final dos anos de 1700 e começo dos anos de 1800 começaram a ser doadas sesmarias na região de Quadra. Provavelmente em regiões das sesmarias não ocupadas pelos Campos Bicudo e que devem ter sido tomadas ao Governo Português, e que, provavelmente, já estavam habitadas por algumas famílias.
As sesmarias são as seguintes, tal qual está escrito no livro “Repertório de Sesmarias”, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, por ordem de doação:
· Antônio Bicudo de Barros. Três léguas de terras de testada, não excedendo uma de fundo no destricto da Villa de Sorocaba. Uma campina rodeada de matos, principiando das Pederneiras Pretas até testar com o mato de Cahajurú e tem de largura em algumas partes meia légua e nas mais muito menos exceptuando onde faz um braço ou reçaca que faz uma restinga de Campo que terá uma légua, cuja campina né distante da dita Villa de Sorocaba 18 leguas pouco mais ou menos. (L. 16, fl. 13);
· Matheus da Silva Bueno, Tenente Coronel - légua e meia de terras de testada com duas de sertão, no termo da Villa de Itapetininga, no ribeirão das Pederneiras Pretas, principiando o primeiro padrão donde finda o campo do Payol da parte de baixo e na volta que faz o dito ribeirão das Pederneiras a fazer barra no Ribeirão do Tatuhy, descendo para a direita, e no ponto desta volta subindo o ribeirão das Pederneiras é que deve principiar a testada e os fundos para o Norte (L. 40, fl. 170 v).
· Luiz Almeida Moura, Antônio Rosa Oliveira, Antônio Bernardo Azevedo Camello, Bento Antunes Camargo, Bento Mascarenhas Camello (capitão) e Manoel Paes - moradores em Sorocaba - Uma légua de terras de testada e uma de fundo, no districto da Villa de Itapetininga, principiando a testada no logar da posse de Antônio da Rosa, na margem das Palmeiras, ribeirão acima a rumo direito de OesSudueste e sem fazer menção das voltas e as tres leguas de fundo a rumo de Nor noroeste, que atravessa o rio Guarapó (L. 41, fl. 14);
· José Amaral Gurgel, tenente, Alexandre Caetano Tavares, Antônio de Mascarenhas Camello, Domiciano Azevedo, Caetano Thomaz de Aquino e José Mascarenhas Camello - moradores em Sorocaba, uma légua de terras de testada e três de fundo no termo da Villa de Itapetininga, no logar chamado Guararapó, principiando o rumo do Ribeirão das Palmeiras; onde finalisar a sesmaria que na mesma ocasião pediu Luiz de Almeida e outros, correndo a legua no rumo de Oeste Sudoeste e as três leguas de fundo a rumo Nor noroeste, que vai atravessar o dito rio Guararapó (L 41, fl. 14 v);
Antes de começar a escrever alguma coisa, é importante deixar claro que o território pertencente à atual Quadra fazia parte da Villa (município) de Itapetininga, assim como tudo o que havia entre Sorocaba, desde a atual divisa de Tatuí com Iperó até a divisa com a província de Mato Grosso (naquela época não havia o estado de Mato Grosso do Sul), e da parte sul do rio Tietê até a divisa com a comarca de Curityba (nome antigo da província do Paraná, que, naquela época, fazia parte por completo da província de São Paulo), com exceção à algumas cidades já existentes no sul de São Paulo, como Minas de Apiahy (Apiaí), desmembrada de Faxina, em 1771, e a própria Faxina (Itapeva), desmembrada de Sorocaba, em 1769, tal qual Itapetininga também se desmembrou, em 1770.
Com a separação de Tatuí, em 1844, e Botucatu, em 1855, Itapetininga ficou com sua área bem reduzida, pois Tatuí ficou com sua área atual até Bofete e Torre de Pedra e Botucatu pegou todas as partes desde Pardinho até o extremo oeste paulista.
Também é importante esclarecer que “termo” significa que a terra estava longe da sede da Villa da qual pertencia. Testada é sempre a parte do terreno que é voltada para a sede da Villa, quando a “testada” já não vem descrita. Sertão é sempre o lado correspondente ao comprimento da sesmaria, perpendicular ao da testada.
Destas sesmarias, podemos supor que a primeira, conhecida como “das Pederneiras Pretas” logo deve ter ficado devoluta, pois seu dono morreu logo no ano seguinte, em 1768, e se achava, mais ou menos, no que hoje é a divisa sul de Quadra com Tatuí e até um pedaço de Guareí (rio Cahajurú).
A segunda sesmaria encontra-se pelo ribeirão das Pederneiras e deve pegar o canto sudeste e o leste do município de Quadra.
A terceira pega provavelmente uma faixa que vinha desde as cabeceiras do Aleluia (porque as terras do “falecido Antônio Bernardo” são citadas como divisa da Fazenda Guareí), pegando o ribeirão Palmeiras e o rio Guarapó, de atravessado e meio que no sentido em que eles correm.
A quarta divide com a parte sul da segunda, e seguindo o mesmo rumo.
Sobre o que podemos dizer sobre os sesmeiros de Quadra, temos o seguinte:
O Ajudante Antônio Bernardo de Azevedo Camello nasceu em 1767, em Nsa. Sra. da Victoria, no Porto, Portugal, e veio ao Brasil, para a região de Pouso Alto, em Minas Gerais. Casou-se com Anna Francisca de Jesus e teve treze filhos, dos quais o Tenente Antônio, o Capitão Bento e o Alferes José Mascarenhas Camello, mais Domiciano de Azevedo Camello, também sesmeiros, eram seus filhos.
Também é bom saber que, naquela época, ao contrário de hoje e de acordo com os costumes da Península Ibérica, era por regra colocar nos filhos o sobrenome da mãe por último, depois do sobrenome do pai. Por isso “surgem do nada”, em alguns filhos, sobrenomes estranhos e diferentes dos outros irmãos – se bem que, até o início do século passado, a confusão com o registro de sobrenomes era enorme.
Também da região de Pouso Alto vieram Manoel e Antônio Garcia Leal, irmãos do Capitão Januário Garcia Leal, o “Sete Orelhas”, que foi um terrível justiceiro da época colonial.
Fora isso, quase todos estes sesmeiros estabeleceram relações familiares:
O Alferes Bento de Antunes Camargo casou-se com Angélica Maria Mascarenhas Camello, filha do Ajudante Antônio Bernardo. Por sua vez, Domiciano de Azevedo Camello casou-se com a irmã de Bento Antunes Camargo. O Cel. Bento Mascarenhas Camello casou-se com a filha do Alferes Luiz de Almeida Moura. O Alferes Caetano de Thomas Aquino, português do Porto, casou-se com Maria Angélica de Mascarenhas Camello, também filha do Ajudante Bernardo. O Tenente José do Amaral Gurgel, irmão gêmeo de Bento do Amaral Gurgel, Capitão–Mor em Lages, Santa Catarina (Santa Catarina também fazia parte de São Paulo) casou sua filha com o Alferes José de Mascarenhas Camello.
Provavelmente Ignácio e Félix eram cunhados de Bento Antunes de Camargo – os Mendes de Camargo e Mendes de Almeida também, provavelmente, eram a mesma família.
André de Almeida Falcão foi um Legalista da Revolução de 1842, e morreu em 05/09/1842, aos 75 anos. Casou sua filha, Gertrudes Pinheiro, com o Cel. Lúcio Seabra.
Alexandre Caetano Tavares foi o Juiz-Presidente da Câmara Municipal de Sorocaba, na sessão que reconheceu D. Pedro I como Imperador do Brasil.
O Cel. Matheus da Silva Bueno – “Pae Papudo” - deu origem aos Cerqueira César e Cerqueira Leite, de Tatuí.
Manoel Paes e sua mulher, Anna Antunes (parente de Bento Antunes?) foram padrinhos do primeiro batizado registrado, em 1º de dezembro de 1822, na Capela de Nsa. Sra. do Carmo, em Tatuí.
Fora isso, os Mascarenhas Camello, que pararam em Sorocaba antes de vir à região de Tatuí, foram políticos e maçons influentes em Sorocaba.
Também há registros, em Tatuí, das famílias Pires, Coelho, Oliveira, Carneiro, Rodrigues, Martins, Ramos, Proença, Dias, Xavier, Lopes, Silveira, etc, sendo que a família Pires certamente fez parte da colonização da região de Quadra.

Vizinhos de Quadra

Temos os seguintes sesmeiros vizinhos de Quadra, fora os descritos no post “O começo do começo do começo”, que fala das partes de Guareí:
· Pedro Silva Chaves. Confirmação – Meia légua de terras de testada com uma de comprido no districto da Villa de Sorocaba, comprada a Sebastião Rodrigues Quevedo, junto da fazenda chamada das Pederneiras (L. 16, Fl. 91 v);
· Manoel Antônio de Araújo, morador nesta cidade de S. Paulo. Três quartos de terras de testada pouco mais ou menos, de matto devoluto, com légua e meia de sertão no termo de Itapetininga, comprada a Simão Barbosa Franco, distante da Villa duas léguas pouco mais ou menos, o qual campo se acha cercado de dois Ribeirões, um que divide o supplicante de Pedro da Silva Chaves e João de Araújo e outro que divide também o supplicante de Estanislau de Campos e José Gonçalves, chamado Ribeirão do Tatuhy, o qual leva em si um restingão grosso de matto devoluto que terá de largura ¾ pouco mais ou menos (L.. 20, Fl. 32);
· Miguel João de Castro, Raphael Alves de Castro, José Paes de Camargo, Antonio da Rocha, Manoel Manso e Francisco Xavier Monteiro, da Villa de Porto Feliz. Légua e meia de terras de testada e uma de sertão sobre a margem do rio Sorocaba, tendo princípio a testada na barra do Ribeirão Guararapo e descendo por elle abaixo até a ilha denominada da Cachoeira com os ventos mais covenientes e as pontas e enseadas que tiver do lado esquerdo com as mesmas confrontações, até entestar com as terras do Alferes José Antônio Paes, principiando estas medições do rio Sorocaba, subindo rio acima da parte direita (L. 32, Fl. 4);
· João Antonio de Sampaio, morador em Porto Feliz. Três léguas de testada com uma de sertão na Villa de Itapetininga, alem do rio Sorocaba, principiando a testada na quadra ou linha de fundo da sesmaria do fallecido Miguel João. (L. 41, Fl. 4 v);
· Antonio Rodrigues da Costa, Norberto Pires da Veiga, Jacintho José da Rocha, Paulo Maria, José Mendes, Ignácio Mendes, Felis Mendes e Joaquim Rodrigues Leite, moradores da Villa de Porto Feliz. Uma fazenda no destricto de Itapetininga, do outro lado do rio Sorocaba no logar denominado tatuhy e entre as sesmarias do tenente coronel Matheus da Silva Bueno, João Antônio Leite, André de Almeida Falcão e os religiosos do Convento do Carmo da Villa de Itu, e do rio Sorocaba, a qual poderá ter três légua e meia pouco mais ou menos em quadra (L. 41, Fl. 140 v).
· Manoel Garcia Leal, Antônio Garcia Leal, Antônio Mariano de Toledo, Ignácio Mendes de Camargo e Felix Mendes de Camargo – uma sorte de terras na confluência do Ribeirão Tatuhy, em o das Pederneiras Negras em ambas as margens deste, no destricto da Villa de Itapetininga, a rumo de Norte Sul, começando o rumo da sesmaria de Tatuhy, que possuem os Religiosos do Carmo de Itú e seguindo para o mencionado Ribeirão deste nome, por elle até a estrada, em ambas as margens do dito Pederneiras, com uma legua de sertão (se houver) por este acima procurando a estrada que segue para a fazenda do Paiol, servindo esta de divisa. (L.41, fl.136v);
· André de Almeida Falcão - morador da Villa de Porto Feliz, uma légua de terras em quadra no destricto da Villa de Itapetininga, no logar Guararapo e bem assim, mais terrenos que existirem entre as sesmarias de João Antônio e Miguel João Castro e os rios Guararapo e Sorocaba (L. 41, fl. 136);
A primeira ao sul da sesmaria de Antônio Bicudo de Barros.
A segunda se encontra ao sul da primeira.
A terceira segue da foz do rio Guarapó no Sorocaba, rumando o norte, por Cesário Lange e Boituva.
A quarta provavelmente era na parte sul da quinta, no bairro Guarapó de Tatuí, ou então para os lados de Boituva.
A quinta deve se encontrar perto do começo da Estrada Tatuí-Quadra, no trecho que é SP-129, mostrando muito bem quem eram seus limítrofes. Vale dizer que Antônio Rodrigues da Costa abriu uma estrada, ligando Porto Feliz até Tatuí, pelos “campos do Bemfica”, e também foi procurador do Brigadeiro Jordão, nas vendas de parte de suas terras da antiga sesmaria dos Carmelitas, “do lado direito do patrimônio, e isoladas do Paiol”, ou seja, no extremo leste de Tatuí.
A sexta talvez esteja ao lado direito da sesmaria do Cel. Matheus da Silva Bueno.
A sétima estava entre os rios Aleluia, Guarapó e Turvo, em Cesário Lange.
Talvez o Ignácio e o Felis sejam os mesmos que obtiveram sesmarias na Quadra, citados anteriormente, ou sejam os de sobrenome Mendes de Almeida. Ou ainda, mesmo sendo desta última família, ainda sejam os mesmos das sesmarias da Quadra (Mendes de Camargo). O mesmo vale para o tal José Mendes.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O começo do começo do começo

Este post diz respeito à história da região onde hoje se situa Quadra, abrangendo desde o período mais antigo que se possa saber até o final dos anos de 1700 e começo dos anos de 1800.
* * *
Onde hoje se localiza o município de Quadra e também Tatuí e algumas abrangências era uma região conhecida por "Paiol", e assim era chamada pela fertilidade de suas terras e pelos barreiros com sais necessários para a criação de gado bovino.
Por ela cortava uma velha estrada que tinha por rumo Botucatu - ou Invutucatu, ou Hybyticatu, ou Imbitucatu, como era conhecida a região de Botucatu, na época. Esta estrada, provavelmente, era uma ramificação do Caminho do Peabiru.
Em resumo, o Peabiru era uma estrada que ligava principalmente o litoral sul de São Paulo até o Peru. No Brasil, ela vinha pelo norte do Paraná e entrava no estado de São Paulo pela região que vai dar em Itapetininga e rumo à Sorocaba. Provavelmente era utilizada pelos Incas, para atingir o Oceano Atlântico e estabelecer contato de escambo com as tribos indígenas brasileiras.
Não se tem conhecimento de índios especificamente na região de Quadra, mas há relatos de pontas de flechas encontradas no caminho entre Tatuí-Guareí (em Quadra, Estrada Jacira Siqueira Rodrigues).
Há depoimentos de que, quando foi construída a fábrica da Santista Têxtil (antiga Alpargatas), foram encontrados restos indígenas.
Em Guareí certamente havia índios, provavelmente Kaingang, como os da região de Botucatu.
Estes índios foram catequisados por padres da Companhia de Jesus, os Jesuítas, ainda na fase do "Brasil Colônia".
Estes Jesuítas obtiveram suas sesmarias em 1723, sendo uma parte pedida pelo padre jesuíta Estanislau de Campos e outra doada por seu irmão, José de Campos Bicudo.
Mesmo estando estas sesmarias em terras consideradas espanholas, o Governo Português queria fomentar a colonização daquela área, e concedeu terras naquela região.
Porém, os Jesuítas foram expulsos do Brasil, então colônia portuguesa, em 1759, por ordens do Primeiro Ministro português Marquês de Pombal, como punição ao "Processo dos Távoras".
Há uma história, que ouvi durante uma de minhas entrevistas à antigos moradores de Quadra que, conta uma lenda a origem do nome do maior dos tanques do Rio Pederneiras, na divisa de Quadra com Tatuí, que é conhecido por alguns poucos ainda como "Tanque dos Padres".
Quem me relatou disse que "os padres da Companhia, que eram muito maus, foram expulsos de Guareí, e foram escondendo seus tesouros pelo seu caminho de fuga, e um dos lugares foi neste tanque".
Quando escutei esta história, fiquei surpreso que alguém pudesse me contar alguma coisa sobre o que aconteceu 250 anos atrás. Depois eu expliquei a ele quem eram estes padres e o porquê foram expulsos. Assim como a história é sempre escrita pela parte que vence, deve ter chegado a ele a versão de que estes padres eram maus. Mas, apesar das evidências, infelizmente isso ainda não passa de um "causo".
Bom, voltando ao assunto, estes padres, nestas sesmarias, formaram duas fazendas, que se chamavam Santo Inácio (ou Botucatu) e Aterradinho de Botucatu (ou Guareí). Essas fazendas eram gigantescas. As duas, somadas, iam de Botucatu até Angatuba, tendo por divisa, em certo trecho, o Rio Guareí, sendo que a atual parte norte da cidade de Guareí fazia parte destas terras.
Assim que os Jesuítas foram expulsos, seus bens foram confiscados pela Coroa e, tardiamente, vendidos, em 1777, ao Capitão Paulino Aires de Aguirre e ao Sargento-Mor Manuel Joaquim da Silva e Castro.
Porém "os arrematantes não conseguiram posse imediata da Boa Vista, pela feroz resistência imposta pelos índios aldeados e ocupantes das terras, tomadas apenas em 1780, pelo Coronel Francisco Manuel Fiúza" - ou seja, o então já conhecido como truculento bugreiro Cel. Fco. Manuel Fiúza fez uma faxina étnica de índios para depois entregar a fazenda aos seus donos.
Desta forma, supõe-se que a história dos indígenas de nossa região tenha terminado nesta época, embora muitas pessoas de nossa região ainda apresentem traços físicos indígenas, devido à miscigenação em alguma época.
Há histórias de um antigo cemitério indígena em Guareí, e isso ainda é bastante conhecido dos moradores mais velhos.
Mas, voltando a falar sobre a "região do Paiol", havia uma sesmaria doada à José Campos Bicudo, em 24/03/1723, que começava na "barra do Rio Tatuí" e se estendia até a parte sul do município de Guareí.
Uma parte desta sesmaria foi doada aos Frades da Terceira Ordem do Carmo - os Carmelitas - , de Itu.
Seus limites eram: o rio Tatuí desde sua nascente até a sua foz, no rio Sorocaba; pelo rio Sorocaba abaixo até a foz do rio Guarapó; pelo rio Guarapó acima, até a serra da Campininha - morros que dividem Quadra com Guareí e Tatuí e servem como divisor de água entre as bacias do rio Tietê e do rio Paranapanema - ; e pela serra da Campininha até a nascente do rio Tatuí.
Outra parte desta sesmaria foi considerada abandonada e devolvida à Coroa Portuguesa, como mandava a Lei das Sesmarias, e se localizava na parte sul de Guareí. Foi doada, então, ao Sargento-Mor Estanislau de Campos Arruda, que pôs, como nome, Fazenda Guareí.
Os carmelitas se instalaram num casarão em frente de onde hoje se situa a Estação Dr. Laurindo, num lugar chamado "Sumidouro",em Tatuí, e num lugar próximo ao povoado de "São João do Bemfica".
Os carmelitas foram vendendo as suas terras do lado oeste da sesmaria e ficaram com uma área reduzida ao que, mais ou menos, é a área urbana de Tatuí. No que ainda sobrou de terras, eles arrendaram uma parte para Antônio Xavier de Freitas e Jerônymo Antônio Fiúsa, ao qual foram juntando antigos moradores do São João do Bemfica.
O povoado de São João do Bemfica, criado pelos anos de 1680, foi extinto por Ordem Real, para que toda a área ao seu redor servisse para a extração de madeira para a alimentação dos fornos da Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema.
Desta forma, boa parte de seus antigos moradores foram para umas terras onde os carmelitas lhes permitiram que fosse construída uma capelinha .
Porém, houve tanta briga entre os colonos e os padres, por causa da posse da terra nos arredores, que foi feita uma solicitação ao Governo Imperial para a desaprprieação de um quarto de légua para a demarcação da vila da freguesia de Nossa Senhora de Conceição de Tatuhy, em 1824.
Desgostosos com a situação, os carmelitas venderam o restante de sua semaria ao Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, e voltaram ao Convento do carmo de Itu, no mesmo ano.
Na parte oeste da antiga sesmaria dos carmelitas, que já tinha sido vendida anteriormente, no início do século passado ainda podiam ser encontrados restos de uma fundações que os mais antigos moradores daquela época falaram que era um mosteiro.
Estes restos foram sendo destruídos aos poucos, com a lavração da terra para o plantio, e hoje não há mais nada.
Ele se situava a alguns metros da Via Joaquim Rodrigues, no bairro do Tijuco Preto, depois da ponte sobre o ribeirão Guaraná, uns 800 m a frente, do lado direito, sentido Guareí.
Este possível mosteiro deveria ter sido construído entre 1723 (a data da concessão da sesmaria aos padres) e começo dos 1800 (quando venderam estas terras).
Porém, no início dos anos de 1800, ou um pouco antes, começaram a ser doadas sesmarias na outra margem do rio Guarapó, onde situa-se 4/5 das terras do município de Quadra, mas abordaremos isto no próximo post.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O "porquê" eu me interessei pela história de Quadra

Aviso: este post não tem nada a ver com a história de Quadra. É apenas sobre como eu me interessei pelo assunto. Você pode pular este post, porque ele não acrescentará nada na sua vida - penso eu.
* * *
É engraçado ver como certa parte dos quadrenses não nutre simpatia pelo seu próprio município: falam que o município é pequeno, que não vai pra frente, que não tem comércio, que não tem banco, etc.
Desse pessoal, a maioria já tem vergonha de pronunciar o nome do município, como, por exemplo:
- Onde você mora?
- Eu moro na Quadra.
- Onde?
- Quadra.
- Quadra é uma cidade?
- É...
- Onde fica isso?
- Fica perto de Tatuí.
- Ahh...
Muitos destes que perguntam sobre "o que é a Quadra" normalmente dão uma risadinha no final, ou perguntam se lá tem prefeito, câmara de vereadores, quantas pessoas tem, coisa e tal.
Os mais imbecis normalmente perguntam se quem nasce na Quadra é quadrado. Os mais refinados mudam um pouco a pergunta. Um amigo meu sempre me pergunta se eu moro perto do gol.
Eu normalmente falo que quem nasce na Quadra é tatuiano, porque a maioria vai nascer na Santa Casa, em Tatuí. Embora no RG de várias pessoas, e principalmente da moçada, já conste a naturalidade de quadrense. Quando eu estou com menos paciência, costumo dar respostas menos educadas, no padrão da idiotice da pergunta.
Bom, voltando ao assunto, o estranho é que, primeiramente, eu fazia parte desse seleto grupo de pessoas que falava mal da Quadra.
Eu nasci em São Paulo e me mudei para cá em 1992, no bairro da Cruz de Cedro, aos 10 anos de idade.
Fiz da quinta à oitava na Escola Estadual de Quadra, que agora é a E.M.E.F. "João Inácio Soares".
Como durante boa parte deste tempo Quadra era um município recém-criado e sob a tutela de Tatuí até a realização de sua primeira eleição para Prefeito, Quadra se tornou um lugar esquecido no mundo. E pelo que me parece, Tatuí nunca deu, realmente, muita atenção para este seu antigo distrito.
Como li num site que fala sobre a história de Porangaba, nunca interessou à Tatuí a emancipação de seus distritos, que lhe rendiam muitos impostos. Imagine então a Quadra, onde se encontravam suas melhores terras e uma produção agropecuária enorme?
Sendo assim, num lugar desprezado por quem deveria tomar conta, quem que vai gostar de morar?
Não havia nem uma "unidade" entre seus bairros à favor da "vila da Quadra": o pessoal da Quadra não se dava bem com o pessoal do Cedro, que não se dava bem com o pessoal do Guaraná, que não se dava bem com o pessoal do Cedro nem da Quadra e que, por sua vez, não se dava com o pessoal do Guaraná.
O pessoal do bairro do Turvo mal vinha à Quadra, igual o pessoal do bairro Araçatuba e dos Cassemiros.
Por causa desta falta de unidade municipal é que aprendi a não gostar da Quadra.
Mesmo depois da emancipação, a "unidade" de Quadra continuava insignificante.
Eu fiz o colegial em Porangaba. Era isso o que restava pro pessoal do Cedro. Os da Quadra iam para Tatuí, e os do Guaraná pra Tatuí ou Guareí.
Depois que houve a consolidação dos serviços públicos municipais de forma decente é que então Quadra começou a virar uma cidade de verdade.
Creio que entre a molecada da escola já não haja este bairrismo, pelo menos de forma tão forte, quanto na minha época.
Passei vários anos sem mal vir à Quadra. Praticamente de 1996 à 2003, quando então entrei, por concurso público, na Prefeitura.
Comecei a ter contato com o povo de Quadra, de todos os bairros, por causa da campanha de vacinação contra febre aftosa e raiva bovina, que eu fui responsável. Comecei a criar amizades com pessoas que não conhecia, a saber de seus problemas, de suas vidas, devido não só à essa minha tarefa, mas com relação a todos os meus serviços do Departamento, e fui criando empatia por essas pessoas.
Outro fato que também ajudou muito foi descobrir que possivelmente tenho raízes na região.
Uns anos atrás, pela certidão de nascimento de meu pai, descobri que minha vó tinha nascido em Passa Três. Daí então descobri que Passa Três era o nome antigo de Cesário Lange.
Também percebi que os sobrenomes de meus bisavós eram desse "meio" entre Quadra, Cesário Lange e Pereiras. Pelo menos suponho, porque existem ou existiram famílias com os mesmos sobrenomes nesse "meião": no caso os Xavier de Barros, os Almeida, os Alegre e os Dias. Os Berardo eu não consegui identificar se eram um sobrenome ou apenas um segundo nome pessoal e a minha bisavó paterna não tinha sobrenome, como era de costume na época.
Ainda não consegui descobrir a conexão genética que talvez exista entre mim e estas famílias. Isso é muito difícil, e tem de gastar muito tempo procurando em cartórios, cemitérios, igrejas, etc., e tempo é uma coisa que eu não tenho muito de sobra.
Isso era o que faltava para que eu realmente me identificasse com a Quadra: uma raíz genética.
Com a curiosidade sobre fazer minha árvore genealógica, consegui alguns dados, nas minhas férias de 2007, mas não me ajudaram em muito.
No carnaval de 2007 resolvi pegar um livro sobre a história de Itapetininga, pra ler durante os dias de ócio - odeio o Carnaval.
Então descobri coisas muito, muito antigas, sobre a Quadra. Como eu me interesso muito, mas muito mesmo por história, passei a correr atrás de mais informações.
Essas informações eu postarei daqui por diante.

O "porquê" da existência deste blog

Olá!
Meu nome é Marcel Defensor e estou aqui para tentar passar para quem lê, e, quem dera, deixar registrado para as gerações futuras, a história deste município de nome estranho e que é permeada de lacunas e de informações que não fazem sentido.
Quem já pesquisou, provavelmente escutou muitas probabilidades do surgimento do nome "Quadra", sobre quem fundou a vila, etc. e tal, mas o que vem sendo escrito ao longo do tempo é apenas uma repetição do alguém disse no passado.
Como se fosse um "telefone-sem-fio", essa história foi sendo repassada até chegar à versão que você pode encontrar, fuçando na página da Prefeitura Municipal de Quadra ou em algum outro lugar.
Mas, como diria a minha ex-professora de Filosofia lá da Faculdade, nós não podemos simplesmente "acreditar" no que os outros dizem e tomar isto como verdadeiro, porque entraríamos no então chamado "senso comum".
"Para você realmente descobrir a verdade, você tem que analisar os fatos por si só, desde suas raízes, e chegar à sua própria conclusão" dizia ela, ou o autor que ela tomava como referência para dar aula.
Analisando os fatos por mim mesmo, baseado em pesquisa genealógica, pesquisa de documentos, pesquisa via Internet e entrevistas com os moradores mais velhos ou que podem me contar mais coisas sobre o passado - ou "o tempo antigo", ou ainda "o tempo d'antes", como eles mesmos costumam dizer - , vou chegando às conclusões que passarei pouco a pouco neste blog, sempre que puder ter tempo disponível e quando minha mente não estiver embaralhada.
Espero que gostem dos posts (textos, em linguagem de blogueiro) e deixem seus comentários, sejam quais forem.
Até o próximo post!